Alunos da Escola Municipal José do Patrocínio, em Campos dos Goytacazes, estão entre os participantes do I Festival Curta Campos na Escola com o documentário Entre o antigo e o novo em Campos: reflexos da escravidão. A produção audiovisual, orientada pelos professores Igor Pacheco Teixeira e Teresa Cristina Campinho, também integra as ações do projeto Mais Ciência na Escola e mobiliza estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental na investigação de memórias históricas da cidade.
As filmagens, realizadas em locais simbólicos como o Cais da Lapa, buscam refletir sobre as marcas deixadas pelo período escravocrata no município e como essas memórias se conectam com a vivência atual. O curta-metragem tem caráter documental e conta com a participação ativa de seis alunos bolsistas e voluntários do projeto.
“Queremos que os estudantes sejam protagonistas de uma leitura crítica do passado e do presente. Com esse trabalho, eles não apenas pesquisam, mas constroem narrativas e desenvolvem habilidades importantes para a vida”, explica o professor Igor.
A escola inscreveu três curtas no festival, sendo Entre o antigo e o novo um dos destaques por sua abordagem histórica. A proposta nasceu dentro do Laboratório de História da unidade escolar, um espaço de pesquisa e produção coletiva, que integra oficinas, leituras e práticas audiovisuais. A iniciativa articula educação científica, cidadania e inclusão digital com a formação dos jovens para os desafios do século XXI.
O curta faz parte de um projeto maior, previamente aprovado no programa Mais Ciência na Escola, que estimula a pesquisa e o protagonismo estudantil na rede municipal. No caso da José do Patrocínio, o recorte escolhido dialoga com temas estruturais da história brasileira, como a escravidão, suas permanências e rupturas.
“Trabalhar com as memórias e escutas intergeracionais permite aos alunos enxergarem como a cidade carrega traços do passado e como essas marcas ainda interferem nas relações sociais de hoje”, observa Igor.
Na José do Patrocínio, o curta documental é resultado de um processo que envolve tanto pesquisa teórica quanto prática criativa. O trabalho articula temas curriculares e experiências do cotidiano dos estudantes, a partir de um olhar autoral e crítico sobre a realidade local. “Mais do que aprender história, os alunos estão aprendendo a pensar o mundo”, resume Igor.
Segundo curta em produção
Além do documentário sobre a escravidão, outro curta coordenado pelo professor Igor também está inscrito no festival. Intitulado Entre o antigo e o novo em Campos: mulheres na História, o segundo trabalho propõe uma investigação sobre o papel e a representação das mulheres na construção histórica do município. A proposta tem como ponto de partida o mesmo projeto aprovado no programa Mais Ciência na Escola e integra as atividades do Laboratório de História.
Nesta produção, os alunos buscam retratar as lutas, os silêncios e as conquistas das mulheres, com destaque para figuras femininas locais que marcaram a trajetória do município. O objetivo é entrelaçar arte, História e cotidiano, resultando em um produto autoral que reflita sobre a presença e os desafios das mulheres ao longo do tempo. A narrativa é construída a partir da escuta ativa, da pesquisa de campo e da valorização da memória social.
A expectativa da equipe é que tanto os participantes quanto o público reconheçam a capacidade dos estudantes do Ensino Fundamental II de analisar criticamente os processos históricos e suas reverberações no presente. Para o professor Igor, a abordagem fortalece a formação cidadã dos jovens e estimula o pensamento crítico desde cedo.
Audiovisual como ferramenta pedagógica
O Festival Curta Campos na Escola reúne cerca de 1.300 estudantes e 257 equipes da rede municipal, mobilizando 50 escolas da cidade e 145 professores. A iniciativa é organizada pela Coordenação de Tecnologias Digitais da Secretaria Municipal de Educação (Seduct), por meio do Projeto Estação Educação. A exibição dos vídeos finalistas e a premiação estão marcadas para o dia 18 de setembro, durante o IV Seminário de Tecnologias Digitais.
Segundo o regulamento do festival, todos os curtas devem ser inéditos, com duração entre 3 a 5 minutos, incluindo os créditos. As produções devem ser elaboradas exclusivamente por alunos, cabendo aos professores o papel de orientadores e facilitadores do processo. Os gêneros aceitos variam entre animação, documentário, ficção, drama e comédia.
A coordenadora dos Laboratórios de Tecnologias Digitais da Seduct, Anna Karina de Azevedo y Oviedo, destaca que o festival estimula o uso pedagógico da linguagem audiovisual como ferramenta de expressão e aprendizagem. Para ela, a participação ativa dos alunos na criação dos curtas contribui para o fortalecimento da autonomia, da colaboração e da cultura digital nas escolas.
Por Jorge Rocha – Fotos: Mauro Antônio